O projeto visa contemplar os aspectos educacional e
espiritual, que são as bases da Rede de Educação Adventista (Foto: Luiz
Kederson)
“Nesse mundo digital, eu nunca tinha escrito uma carta!
Também nunca tinha escrito uma carta para alguém que eu não conheço,
principalmente para alguém que está preso. Então está sendo uma experiência
nova e muito boa para mim”, exclama Giovana Costa, aluna do 9º ano da Escola Adventista de
Bacabal, localizada na região sul do Maranhão.
Numa época em que o meio de comunicação mais utilizado é a
internet, o projeto Cartas de Esperança, desenvolvido pela Equipe de Apoio à
Capelania e pela docente de Língua Portuguesa, veio para mostrar que essa
prática ainda é válida, especialmente porque os destinatários são pessoas que
se encontram numa situação delicada.
“No campo da Língua Portuguesa, eles vão trabalhar
justamente a escrita e conhecer o gênero textual de carta. No campo espiritual,
os alunos estarão levando esperança para os presidiários, falando do amor de
Cristo, da volta de Jesus e do perdão que Ele tem para dar para todas as
pessoas, quando há o arrependimento”, assegura a professora Daniela Lemos.
Mesmo tendo um prazo para realizar a tarefa, assim que a
proposta foi lançada os alunos de pronto começaram a escrever suas cartas. O
pastor escolar, Jailson Lima, conta que a ideia surgiu quando, em visita ao
presídio da cidade, foi surpreendido com o pedido de um detento para que
entregasse uma carta à família que não via há muito tempo. “Eu fiquei
pensando: ‘há quanto tempo eles não recebem uma carta com uma mensagem de
conforto?’ Começamos a conversar com professores e fomos amadurecendo a ideia
de um projeto, considerando o slogan da escola, que é ir muito além do ensino”, relembra.
Após algumas semanas, as cartas chegaram às mãos dos
destinatários, que também receberam uma folha em branco para enviarem respostas
de agradecimentos aos alunos. O gesto foi bem aceito pelos detentos. “Para mim
foi importante receber essa carta. Estou praticamente há dois anos preso e
nunca recebi uma carta na minha vida. Às vezes a gente precisa de uma palavra
amiga, de alguém. Todo mundo tem sentimento”, expressa o detento Jhon Wilami
Carvalho.
Para o assistente social Roberto Abade, essa
assistência traz impactos aos encarcerados:“O sentimento de rejeição e
indiferença que esses indivíduos recebem tanto por parte da sociedade como do
Estado dificulta sua reinserção na sociedade. Ações como essa possibilitam uma
nova perspectiva de vida, no sentido de eles entenderem que mesmo com seus
erros, é possível ver o amor verdadeiro expresso através desses gestos”,
ressalta.
Segundo a Rede Justiça Criminal, o número de detentos no
Brasil triplicou no período de 2000 a 2014. No entanto, há indícios de que os
presídios que recebem assistência de igrejas evangélicas diminuem os índices de
rebelião. A unidade prisional de Bacabal é um desses exemplos. Desde 2013, a
Caravana da Esperança, grupo composto por 30 voluntários adventistas, visita
semanalmente o presídio. Ao longo dos anos, as ações se intensificaram e
mudanças positivas foram sendo percebidas, até que o grupo recebeu o aval da
unidade prisional para a construção de um templo adventista dentro do presídio.
A congregação foi inaugurada em setembro de 2016 e os
cultos acontecem aos domingos, no período da tarde. Desde o início do
projeto evangelístico, aproximadamente 100 pessoas já foram batizadas.
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