As negras com idade entre 15 e 29 anos têm 2,19 vezes mais
chances de serem assassinadas no Brasil do que as brancas na mesma faixa
etária, de acordo com o Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência 2017 (IVJ
2017).
O IVJ 2017 traz dados de 2015 e foi elaborado pela Unesco
(Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), pela
Secretaria Nacional de Juventude da Presidência da República e pelo Fórum
Brasileiro de Segurança Pública.
No topo da desigualdade entre as taxas de homicídio estão o
Rio Grande do Norte, onde as jovens negras morrem 8,11 vezes mais do que as
jovens brancas, e o Amazonas, cujo risco relativo é de 6,97 (o risco relativo é
a variável que considera as diferenças de mortalidade entre brancos e negros).
Em terceiro lugar aparece a Paraíba, onde a chance de uma
jovem negra ser assassinada é 5,65 vezes maior do que a de uma jovem branca. Em
quarto lugar vem o Distrito Federal, com risco relativo de 4,72.
No Maranhão, felizmente, os índices não são alarmantes. O
risco variável é de 1,1 para cada 100 mil habitantes, mas a preocupação com a
violência em todo o Brasil é geral, afinal, é algo que afeta a todos. A artista
plástica, poetisa, compositora e escritora Gorete Pereira é um exemplo da força
da mulher negra. Ex-gari, ela não se contentou com o destino que tinha. Foi à
luta, ganhou vários prêmios e reconhecimentos na área de direitos humanos,
literatura e artes plásticas. Para ela, falta respeito.
“A valorização, acima de tudo. Falta olhar a mulher negra
com dignidade, até porque o sangue é vermelho. E todo mundo tem. Por que nos
olhar de maneira diferente? Dentro de cada uma de nós tem um ventre em que foi
gerado ser feminino, ser masculino. Há muita discriminação. O que fazer? Ter respeito.
Reconhecer a mulher como um todo. A mulher é mãe, negra, é tudo. E pode tudo
como qualquer outra em todas as áreas . Fiz até uma música que fala sobre isso
também. Dessa violência contra a mulher negra”, conta ela.
Juventude negra
Entre os homens, a chance de um jovem negro ser assassinado
é 2,7 vezes superior à de um jovem branco. O índice é maior que o registrado no
levantamento divulgado em 2015.
A situação mais preocupante é a de Alagoas, onde um jovem
negro tem 12,7 vezes mais chances de morrer assassinado do que um jovem branco.
Na Paraíba essa diferença é de 8,9 vezes, índice também muito alto. Para a
representante da Unesco no Brasil, Marlova Jovchelovitch Noleto, a violência
contra a juventude negra no Brasil atingiu índices alarmantes. “Essa violência
precisa ser enfrentada com políticas públicas estruturadas que envolvam as
diversas dimensões da vida dos jovens como educação, trabalho, família, saúde,
renda, igualdade racial e oportunidades”, diz Noleto em texto que integra o
relatório.
Para a jovem Priscila Araújo, 20 anos, a situação no geral é
pior para a juventude negra. No trabalho, inclusive. “Se você considerar que
para a mulher, de uma forma geral, já é difícil enfrentar o mercado de
trabalho, imagina para a negra. É o dobro de dificuldade. Então, para a gente é
tudo mais difícil. Viver em uma sociedade como a nossa é muito difícil”, opina
a estudante.
Escravidão e racismo
O documento lembra que o Brasil foi o último país do mundo a
abolir oficialmente a escravidão, em 1888 – quando os negros já eram cerca de
50% da população–, mas ressalta que a abolição não significou possibilidade de
inserção no mercado de trabalho para os negros, que exerciam trabalhos
precários e, em geral, nas zonas rurais, enquanto os imigrantes europeus eram
absorvidos por fábricas em centros urbanos, em meio ao avanço do processo de
industrialização.
A partir dos resultados do levantamento, o IVJ 2017 conclui
que os índices “evidenciam a brutal desigualdade que atinge negros e negras até
na hora da morte”.
“Essa desigualdade se manifesta ao longo de toda a vida e em
diversos indicadores socioeconômicos, em uma combinação perversa de
vulnerabilidade social e racismo que os acompanha durante toda a vida. Não à
toa, negros e negras ainda sofrem com enormes disparidades salariais no mercado
de trabalho: dados recentes divulgados pelo IBGE mostram que negros ganham 59%
dos rendimentos de brancos (2016)”,
diz o documento.
diz o documento.
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